Nestes quase 70 anos da minha vida, vi muitas mudanças… Os últimos 30 anos marcaram o início do limiar de uma nova “era”.
Este período é similar, no que implica em dimensão de mudança de comportamento, a momentos vividos pela humanidade no passado; como o Governo de Júlio César, em Roma, que antecedeu o Império romano; a tomada de Constantinopla pelos Otomanos, que marcou o fim efetivo da idade média e outros tantos acontecimentos marcantes de grandes alterações de rumo na história.
No entanto, nenhum desses fatos aconteceu sem um longo processo de “preparação” que os antecederam; esta é uma das diferenças que marcam o novo período da evolução do mundo.
Nunca assistimos, em tão pouco tempo, mudanças na forma de viver, se comunicar, produzir e transmitir dados e conhecimentos como o que vem acontecendo.
“De jangada leva uma eternidade
De saveiro leva uma uma encarnação
Pela onda luminosa
Leva um tempo de um raio.”
A bela música do final da década de 80 do século passado encantava e absorvia a mim, jovem médico, formado há uns 10 anos e a outros jovens que se esforçavam para entender e ajudar a mudar o mundo. Vibrávamos com a interpretação basta, daquele momento feita por Gilberto Gil, “Antes longe era distante”(…) “Hoje lá trás dos montes, Dendi casa camará”.
É de tirar o fôlego. Porém, nenhum de nós poderia imaginar, naquela época, o que estava por vir.
A telefonia celular chegou em 1990, primeiramente no Rio Janeiro, em uns 3 anos se espalhou pelo Brasil, mas era artigo de luxo para classe média, nos EUA e na Europa já existia há 2 décadas.
Até os telefones celulares serem massificados, e enriquecidos por novas tecnologias, as correspondências entre as pessoas eram feitas por cartas enviadas pelos correios, telegrama por código morse, depois vieram o telegrama fonado, o telefax, o fax e nas cidades entre 1980 e 90, os bips e, logo logo, os pagers (chamávamos “peiges”).
Cada ponto deste vale um conto, depois conto. Hoje vou tratar sobre a gravação e a difusão da música, através do disco 78 rpm (rotações por minuto), de goma-laca, apelidado de “bolachão”; sucedido pelo disco de vinil, 331/3 rpm, conhecido com LP, long play; depois veio o disco laser, CD.
Haviam também as fitas cassetes, lançadas pela Philips no começo da década de 60 e as mídias de som e imagens, a fita VHS, betamax e famoso DVD.
Tudo isso foi acabando, cada um a seu tempo, e substituídos pelas plataformas de streams, articuladas com os celulares e computadores pessoais, a ponto que qualquer pessoa que tenha menos de 30 anos não fazer nenhuma ideia de como se ouvia música fora dos shows.
Merece menção destacarmos as mudanças nos aparelhos e a grande virada tecnológica que foi a evolução, ou melhor, revolução, marcada pela mudança do mundo analógico para o mundo digital. A coisa está só começando.
Do primeiro disco de Goma-laca, inventado em 1870, comercializado amplamente a partir de 1895, para o primeiro disco de vinil demorou 6 ou 7 décadas; o 78 rpm conviveria com o LP até final da década de 60.
E foram mais 6 décadas para aparecer o CD, em 1982 apareceu no Japão, logo depois na Europa e Estados Unidos.
Em 1987 surgiu entre nós e com o advento da da tecnologia mp3, que permitia gravarmos em um único CD 60 músicas; parecia aos olhos de todos como uma coisa insubstituível, alguns chegaram, ingenuamente, a achar que era pra vida toda. Não durou 20 anos.
Hoje algumas pessoas, em nichos, usam radiolas, 3 em 1, toca-fitas, toca-CDs, para ouvir discos de vinil, CDs e fitas K7. Eu toquei na ponta do iceberg, as mudanças são muito mais profundas.
Na verdade, o novo mundo está somente começando. Deixarei uma preocupação para todos nós. Estes avanços tecnológicos devem ser revertidos para o bem da humanidade, dependerá de nós, a redução da pobreza, a valorização da paz e da liberdade, aumento do senso coletivo.
A evolução tecnológica deveria ser acompanhada pela evolução social.